AUTOR: IVO MARTINS 
EDIÇÃO: Revista Op. #20     DATA: Agosto de 2006 





Barry Guy. Folio / ECM. 2006

O jazz assume por vezes tanta grandeza. Não queremos elogiar esta música, na qual o poder de compra sinaliza
gosto e desejo de possuir, nem estabelecer comparações danosas sobre todas as outras que existem à nossa volta.
Será que precisamos de ornamentos? Todos tentamos o impossível, ao querermos realizar um acto criativo puro,
sem qualquer tipo de excesso. Logo, a arte resulta de um subproduto feito de excesso sobre essa tentativa de
obstinação do génio. Desperdiçar em arte é falta de cultura e exceder é falta de gosto. Temos de admitir que
existem obras que são construídas com o mínimo de desperdício, e neste sentido aproximam-se ainda mais das
grandiosas fontes da criatividade suprema, antigamente olhadas como uma questão de Deuses. Assim sendo, este
trabalho cumpre perfeitamente os pequenos desígnios da percepção universal que nos convida a ter as maiores
esperanças em dispormos de uma vida melhor. Reduzir os excessos e diminuir os desperdícios, deixando para
trás todo o supérfluo, poderá ser um interessante caminho a percorrer e a explorar.



Ben Allison. Cowboy Justice / Palmetto. 2006
Larry Goldings. Quartet / Palmetto. 2006

O jazz assume por vezes um sentido popular. Não encontramos na denominação “popular” qualquer momento
destrutivo sobre esta música. Sabe-se que um povo submisso é mais fácil de governar do que um povo culto, mas
a nossa ânsia de simplicidade equivale a termos de fazer uma aproximação às estruturas mais estilizadas da
modernidade. Quanto mais as pessoas ficavam escandalizadas com as composições que continham as
dissonâncias mais estranhas e incompreensíveis, tanto mais podiam atribuir aos ouvidos de quem as escreveu os
piores defeitos. Os trabalhos agora publicados contêm uma imensa teia de coisas simples e pop’s, no sentido mais
musical desta sigla-palavra. Uma sensação estética que se aproxima, de uma forma agradável, das coisas
distorcidas que os ouvidos de muitos não queriam escutar no passado. Sem querer atribuir culpas a alguém,
todas as coisas se simplificam quando chegar o momento tornado normal pelo gosto alterado dos que mudaram.



Chris Cheek. Blues Cruise / Fresh Sound New Talent. 2006
Paul Motian Band. Garden of Eden / ECM. 2006
Ron Horton. Everything in a Dream / Fresh Sound New Talent. 2006

O jazz assume por vezes um profundo sentido clássico. Não existe nesta verificação nenhum aspecto negativo.
Embora alguns entendam que quando referimos a palavra “clássico” estamos, desde logo, a menosprezar aquilo
a que atribuímos essa designação. Neste caso, dos trabalhos atrás referidos e agora publicados, as coisas não se
passam dessa maneira; as mudanças na forma não correspondem a uma busca de inovação, mas a um desejo de
aperfeiçoamento naquilo que pode significar ser ainda melhor do que aquilo que até aqui foi feito e, no seu
seguimento, será legitimo ao artista procurar encontrar uma melhor solução para a sua música, não sendo
obrigado a descobrir uma nova solução, aquela que nos faria surpreender intensamente.




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